hcpg10_aldo_paviani_RFcarta

hcpg10_aldo_paviani_RFcarta

Aldo Paviani – CARTA DE UM AMIGO por Ricardo Farret

Apesar de ter ido residir em Santa Maria, RS, minha cidade natal, onde Aldo Paviani foi residir por força de um amoroso casamento, só fui conhecê-lo na Universidade de Brasília, alguns anos depois de minha chegada à Capital Federal. Isto porque, Aldo chegou a Santa Maria, quando de lá já havia saído para estudar Arquitetura e Urbanismo, em Porto Alegre.


Em outubro de 1968, quando vim para a UnB, na esteira do projeto de reabertura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB – então vinculada ao Instituto Central de Artes – havia entre as comunidades docente e discente a visão predominante da arquitetura como obra isolada, poderosa e explicativa em si mesma. Passados os primeiros anos, fomos criando a visão de que os contextos sociais onde a obra de arquitetura se insere – a Cidade e a Região – eram, mais que um pano de fundo, mas instâncias importantes para a plena realização e usufruto dos espaços arquitetônicos.


No início dos anos 1970, tendo a UnB uma população ainda pequena em relação ao que é hoje, já iniciávamos alguns trabalhos de natureza interdisciplinar – sem a força que a expressão hoje apresenta , particularmente em associação com colega do Departamento de Economia. Nesta época, chega à UnB, o professor Aldo Paviani, vinculado ao Departamento de Geografia, imbuído desta mesma preocupação: a interdisciplinaridade.


Desde então, e por longos e frutíferos anos, tive a oportunidade de realizar inúmeros trabalhos com a parceria do Aldo. Entendíamos, como hoje, que o contexto socioeconômico só se realiza no território e, portanto, é uma instância indissociável – mas não fetichista – da organização das comunidades. Aldo sempre pregando a necessidade da interdisciplinaridade, foi um profícuo difusor dessas ideias, com inúmeros livros e artigos autorais e/ou por ele organizados, além de ser um dos criadores do NEUR – Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais, com o objetivo principal (talvez hoje esquecido) de reunir a comunidade acadêmica à comunidade científica de Brasília, dispersa na máquina burocrática do setor público.


Aldo, também professor aposentado da UnB, continua a movimentar a sua produção, com marcação implacável em relação à interdisciplinaridade e a … prazos! Mas engana-se quem pensa que as nossas aposentadorias acabaram com a parceria. A interdisciplinaridade continua na pauta, hoje com nossos encontros semanais, onde um pequeno grupo de amigos e colegas, acompanhados de um vinho honesto, “passamos em revista” as questões urbano-territoriais do País, ampliadas com a inclusão do (sombrio) contexto socioeconômico do País. Muitas vezes, é claro, com visões divergentes, mas sempre com o respeito às diferenças ideológicas e factuais.


Muitos anos mais para todo este cenário, é o que desejo acima de tudo!


Ricardo Farret
Professor (aposentado) da FAU/UnB.