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Homenagem a Tânia Maria da Costa – Por Yara Martinelli

Tânia é mulher forte. Nasceu luta, embora ainda não soubesse à época. Mineira de Juazeiro de Minas, veio com 4 anos pra capital. Em busca de oportunidade, mãe, pai e os irmãos se instalaram em Planaltina. Trabalhou com tudo um pouco, mas sempre com gente. “Sou muito comunicativa” disse entre os dentes de seu sorriso aconchegante. Apesar das dores, Tânia sempre teve força e alegria.


Foi num dia do ano de 2016 que recebeu papel e contrato pra assinar seu nome: portaria do ICC Sul, terceirizada, 3 ônibus pra ir e 3 pra voltar, 8h por dia, salário mal pago. Mal também sabia o tamanho da transformação que essa assinatura causaria. No primeiro dia de trabalho não acreditou no mundo que via. Tudo era novo, lindo e desafiador.


Se reconheceu luta na UnB. Mulher alta e sorridente, de olhos atentos, coração
grande, sotaque mineiro. Carismática. No dia a dia duro e cansativo, Tânia foi
conversando com cada um que passava: professoras, alunas, terceirizadas. Conheceu o mundo inteiro de dentro de um balcão. Conta toda alegre: não precisou sair de lá para conhecer o Brasil todo em apenas um dia.


Aprendeu coisas novas sobre a vida, ensinou para quem estivesse atento. Percebeu a desigualdade, se envolveu com o sindicato. Assim, viu que era luta. Reivindicar, saber de seus direitos. Essa é uma daquelas coisas que quando se aprende, não tem volta. A ignorância é uma dádiva? Talvez. O fato é: Tânia não parou. Abriu a boca para nunca mais fechar. Entre os dentes de seu sorriso aconchegante, muitas palavras fortes saíram.


Vieram os cortes e tudo mudou. “PEC da Morte”. Literalmente. Na injustiça, Tânia encontrou motivo. No desespero das companheiras terceirizadas, propósito. E tudo se transformou. Ganhou espaço político no sindicato, fez viagem. Explicou milhares de vezes aos companheiros: estavam sendo enganados, destratados. Lutar era dever, porque ficar era direito. Mesmo assim, as demissões chegaram. Com elas, perseguição política. Tânia demitida. Depois disso, ansiedade. Frustração e impotência. Privação. Peso da responsabilidade por quem representava. E a luta em Tânia precisou encontrar outro caminho pra desaguar, ou se afogaria. Se reinventou – teve de se reinventar

.
Ficou amiga de cada gato que anda no ICC, e alimenta cada um deles como se
fossem seus próprios filhos. “É o que mais sinto falta”, diz acariciando o felino de nome “amiguinho”. Tânia segue sem a Universidade. Passa bem. Os efeitos provocados pelo tempo em que esteve lá serão eternos. Mas e a universidade sem Tânia, como fica?


Precisamos refletir sobre a Universidade que queremos!