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Sina pela Vida – por Girlane Florindo

Reescrevendo corpos negros, sem fôlego
Minha vida é a sina pela vida.
Não me permiti morrer
Nesse mundo branco
Não me permiti o abandono.
Mesmo solitária tantas vezes
Nasci para marcar presença.
A Negra na urbanidade.
Eu cheguei, eu forjei
“Outros contornos de realidade”.
Mundos negros femininos nascem em mim.
Minha adotiva mãe branca
Ensinou-me sem saber
A rasurar o cânone.
Nasci liberta,
Mas necessitada de outras alforrias
Para mim, para os meus e minhas.
Feita de coragem e resistência
Das matrizes africanas
A cumprir o meu papel devido
Aos 3 anos já escrevia.
Sem livros por perto
A leitura me veio de súbito
Pela força persistente forjada
Em meu ser, pelas altas habilidades
Não entendidas, não pensadas
Para uma menina negra
E seus assombros
Num universo de escravismo.
A voz de Luther King ecoou em mim.
Desde sempre, o imperativo:
sonhar pela educação.
Pela universidade.
Encontrei o teatro, a literatura
Minhas subjetividades feitas
Ação, verbo e carne.
“Não vou mais lavar os pratos”
Caminhos e formas insurgentes
De reconfiguração
De anunciação
A desafiar colonialismos redutores.
“Só por hoje deixarei o meu cabelo em paz.”
O meu espelho e sua ordem simbólica
“Retina negra” e seus filtros.
Quebrei os silêncios
e rasguei as mordaças
Eu, intérprete de mim mesma
A conquistar espaços,
Em viradas bruscas da
Vida em revisão.
Escrever, cantar, encenar.
Eu também sei, eu também posso.
“Negra metida”? Sim.
“Preta fujona.”
“Mulher Negra de Cabeça Feita.”