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Caderno de Uruanan – Por Cláudio Passos Oliveira

Reunião do sindicato cheia. Luto com palavras. Olho ao redor. Concentro. O
poema sai da minha boca afiado, bonito. Pedaço de mim. Peito, pele, coração. Colegas escutam, afeto, respeito. Nossa justiça, diferente das que tem por aí. Tão diferente. Não sei ficar calado, o mundo fervilhando ao redor, fedor de preconceito, discriminação. Amor faltando em tudo. Leio no ônibus, onde dá, balança forte, embaralha. Sinto, penso. Olho ao redor. Escrevo, falo. Menino no Gama, me chamavam Lelo. Já inventava história, poetava. A gente cresce do jeito que dá. Palavras colocando a cabeça na ordem, a vida tirando. Droguei forte, pra nunca mais sair de todo. O câncer veio buscar a Mãe. Terremoto. Quase fico no caminho, tantos ficam. Mas não. Vi a luz no hospital, agarrei firme. Serviço de limpeza primeiro, depois portaria, sentinela da meninada estudante. Também quero, chego lá. Minha Universidade. Vou lançar livro. Os olhos sempre no movimento, na coisa invisível. A cabeça navegando, solta. Brota poema, história. Anoto tudo no caderno surrado do Lelo, pra nunca esquecer.