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Homenagem a Uruanan – Por Yara Martinelli

Da pedra seca sob o sol
Na fenda entre a rocha dura
Nasce uma flor
Uruanan


Contra toda expectativa
Floresce
E se torna
Alegria


Na aridez do vento quente
Seco
Cerrado

Veio ao mundo em família pobre
Criança na capital Brasília
Peso do mundo nas costas
A rua chama
O álcool alivia a dor


Fácil se perder nesse caminho
Portas se fecham
Difícil é achar nova entrada
Pro labirinto


Mas Uruanan é
flor que nasce em pedra seca
Cerrado
E como a fênix
Renasce das cinzas


No leito do hospital universitário
recomeça a vida
uma oportunidade e um teste
e ele agradece:
“A universidade salvou minha vida”, diz
Quando (na verdade)
Contra toda chance
Já era
Flor nascida na pedra seca
Cerrado


A história na universidade
se tornou transformação:
Aprendeu de tudo um pouco,
Conheceu todo tipo de gente,
Fez amigos pra vida,
Sentiu o peso de ser invisível
Dentro da universidade – que tanto reflete quanto
não age


Talvez pela voz imponente
Talvez pela altura,
o olhar sereno de gente
Uruanan se destaque
Na luta deste terreno
Deste solo fértil pra revolta
Mas ruim de brotar mudança


Foi enfim à luta sindical.
Encontrou esperança no fazer diferente.
Renascer direitos de sua própria classe.
Mas os poderosos de cima vomitam a sentença:
– Tá todo mundo demitido.


Mas Uruanan não é todo mundo
É flor que nasce em pedra seca
Cerrado
Uruanan ficou
firme transparecer em cada palavra
das dores da vida
vê alegria em coisas simples
e como todo poeta
sente