Travessia – Por Cláudio Passos Oliveira
Prazer enorme em te conhecer, Bernardo. Senta, por favor. Fica à vontade.
Soube da tua travessia. Lembrei de Pessoa: “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu”. Lançar-se… Tanta coragem nesse corpo tão jovem. Tanta estupidez nos olhares que te recusam.
Cisheteronormatividade. Nada com um nome desses poderia ser bom, não é mesmo? Aceita um café?
Essa noite sonhei com Tirésias. Sábio porque homem, mulher, homem.
Soube da tua jornada, Bernardo. Posso caminhar contigo um pouco?
Me veio também uma memória de infância. Do quintal da casa de minha vó. Vi a borboleta romper o casulo. Ficou tremulando do esforço, as asas encharcadas, amarrotadas. Pendurada no galho até secarem. Só então o voo, lindo.
Que alegria essa tua visita inesperada, Bernardo. Quanta honra!
Soube do teu voo. Das tuas lutas: solitárias, coletivas. Do teu amor encontrado.
Eu te celebro, Bernardo. Nunca deixe de vir.