Maria Madalena Torres – CARTA DE UMA AMIGA por Laura Maria Coutinho
SOBRE COMO E ONDE A HISTÓRIA DE MARIA MADALENA TÔRRES CRUZA COM A MINHA
Encontrei Madalena, pela primeira vez, não sei precisar a data, tudo pode ter sido um pouco antes ou um pouco depois, no final dos anos de 1980, em Ceilândia. Eu desenvolvia minha pesquisa para dissertação sobre o uso da linguagem audiovisual na alfabetização de adultos, pelo método Paulo Freire, com colegas do Mestrado em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Ela era uma jovem educadora popular, aliás, jovens éramos todos, cursando o ensino médio e já muito engajada nas ações de alfabetização de adultos que as pesquisas, do nosso grupo de mestrado, desencadearam na cidade. A gênese desse trabalho, o vídeo que a documenta, as dissertações, relatos, estão disponíveis em muitos lugares. O “Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia – CEPAFRE”, criado, inicialmente, como “Núcleo Paulo Freire de Alfabetização” foi, de muitas formas, e é ainda, lócus de muitos dos nossos encontros.
Em outro momento, eu, na Faculdade de Educação da UnB, encontro Madalena no “Curso de pedagogia para professores em exercício no início de escolarização – PIE”, um convênio entre a FE/UnB e a SEEDF, eu como coordenadora do curso e ela como professora-mediadora. Esse projeto tinha dois níveis de formação: graduação, para os professores que possuíam apenas o nível médio e especialização para os professores-mediadores. Nesse último, atuei também como professora e orientei o trabalho final de Madalena, com o título: “Luzes, câmera, educação: o filme como intervenção pedagógica em sala de aula”.
Nosso gosto pelo cinema, e pela popularização dessa linguagem, nos aproximou de muitas formas. Meu trabalho na Universidade de Brasília tem, desde sempre, o cinema e a linguagem audiovisual como campo de pesquisa. Madalena interessou-se em cursar minha disciplina de pós-graduação “Espaços de cinema: natureza e cultura”, como aluna especial. Posteriormente, candidatou-se a uma vaga no meu grupo de pesquisa, como aluna regular do mestrado. Escreveu, sob minha orientação, a dissertação “O cinema – a língua escrita da realidade – na alfabetização de jovens e adultos”. Este escrito, mais recentemente, foi revisto e transformado no livro “O cinema como linguagem na alfabetização de jovens e adultos trabalhadores”, publicado pela editora ArtLetras, para o qual tive a honra e alegria de escrever o prefácio. No intervalo entre a dissertação e o livro, estivemos juntas no projeto Cinepopular, eu na coordenação junto ao Decanato de Extensão da UnB e ela junto ao Cepafre, Ceilândia. Juntas escrevemos o artigo “Cinema e alfabetização: uma experiência de conhecimento e linguagem audiovisual em Ceilândia”, onde essa experiência foi relatada.
Tive o prazer de participar da cerimônia na qual Madalena, muito merecidamente, recebeu o título de Cidadã Honorária de Brasília da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Depois disso, como a história dá muitas voltas e abre-se em muito ciclos, estamos, mais uma vez, juntas na comissão editorial do CEPAFRE que busca publicar pesquisas e outros relatos, com o objetivo de dar conhecimento e publicidade ao trabalho de alfabetização e a muitos outros. Nos cruzamentos dessa história, é podemos encontrar muitos outros personagens que, mesmo não nominados aqui,
estão presentes.
Profa Dra Laura Maria Coutinho